quarta-feira, 21 de junho de 2017
A Mulher-Bomba... de Emoções
Você também poderá ouvir este episódio no podcast Caminhos da Reflexão.
A Mulher está sempre com um sorriso no rosto e o riso correndo solto na alma. É plenamente satisfeita consigo e jorra simpatia por onde passa. Oferece o semblante mais sereno e ri abertamente das próprias trapalhadas. Até encanta quando distribui tranquilidade e mesmo quando canta para espantar os males e as pessoas em seu redor.
Corre para sentir os pulmões arderem e o cérebro incandescer, e estagna quando necessita arrefecer a rotina frenética. Agita os continentes para cumprir seu papel. Detém o vento e o engarrafa, se assim for desafiada. Agiganta-se para defender o seu ninho e humilha-se para reconhecer quando erra.
Chamem-na de incompetente e ela não aceitará, porém, tolerará; e enfrentará os obstáculos para comprovar que estão errados a seu respeito. Contudo, não coloquem em dúvida seu caráter nem sua ética. É o seu calcanhar de Aquiles: o ponto fraco, fator que a faz sucumbir.
A serenidade a abandona; a segurança lhe deixa vulnerável e o desespero invade seu âmago. O cronômetro da autodestruição é acionado. A contagem regressiva rumo a autodesvalorização está em andamento.
Agora, a Mulher-Bomba se infiltra no meio da multidão de vítimas de ataques do ego e aguarda a explosão de emoções. Ela tem o controle do tempo nas mãos. Ela é capaz de reconfigurar o sistema e adiar a explosão, mas jamais conseguirá desativar a bomba-relógio que traz dentro de si, que a faz ser aquilo que ela é, aquilo que ela está e aquilo que ela encarou ser.
Um dia, ela deixa a bomba explodir e sua alma fragmenta-se na dor, na decepção de um julgamento injusto. As chamas reduzem-na a átomos, para enfim, ser banhada pelo precioso bálsamo do orvalho do pranto.
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
A Prisioneira
Você também poderá ouvir este episódio no podcast Caminhos da Reflexão.
Ela continua sempre ali, à espreita, atenta a qualquer respiração. E eu aqui, acorrentada nesse porão escuro, e amordaçada de uma forma tão inteligente que não é possível eu manter um diálogo com meu próprio pensamento.
Passou-se tanto tempo que não consigo mais ter referência para medir os minutos, horas, dias, meses ou anos. E percebo que ela me cobiça. Vejo isso nos seus dentes sempre à mostra, em um sorriso cativante, convidativo.
"Não consigo me mexer e nem falar", penso em dizer, e captando meus anseios, responde com uma voz sussurrante, quase melodiosa:
- É só você querer.
"Mas realmente não consigo!", lhe retribuo em pensamento.
- Você não está se esforçando. Tem que querer, e desejando intensamente.
"Esqueceu-se dos grilhões que atrofiam minha vontade própria?", devolvi pensando aos gritos.
- É você quem pensa e se sente presa.
Desisto de fazê-la entender. Pelo jeito é extremamente teimosa, ou supostamente cega. Então, tenho um pensamento bom: luz, sol, água, natureza, e fico satisfeita com o efeito que causa em mim.
De repente, ela se aproxima e ordena que eu a siga. O temor que sinto incentiva-me a me erguer e vejo que estou livre. Esqueço o que eu queria fazer com a liberdade e fico imóvel e impassível. A liberdade não aguardada causa mesmo esse impacto.
Testo minha voz e me assusto com o estranho som que se liberta da minha boca. Palavras? Ou apenas sons? Como já mencionei, faz muito tempo que estou aqui. Mas decido segui-la pela escadaria interminável. Às vezes, aparece um estreito corredor de luz vindo de janelas minúsculas.
Sinto-me exausta por esse súbito esforço, contudo, continuo avançando degrau por degrau.
Quando chegamos ao patamar, minha algoz vira de frente para mim e sorri, transmitindo a confiança de que ela é tudo que eu tenho. E pede para que eu olhe em redor. A torre deve estar a uns trinta metros do chão e eu tenho um visual incrível da floresta. O céu está azul e lá embaixo corre um rio de águas cristalinas.
- Pule - ela incentiva, e eu tenho um sobressalto. Entretanto, ela sorri. - Você não quer ser livre? Ou prefere retornar para aquele porão imundo?
- Só tenho essas opções? - Quando ela confirma com um suave balançar de cabeça, fico inquieta e começo a pensar que a opção de fugir daquele lugar horrível em que fiquei enclausurada durante tanto tempo é razoável. Subo no parapeito da janela e olho para baixo. Finalmente meu sofrimento vai terminar, penso. E ela me observa com aquele olhar amigo, oferecendo apoio.
- Diga ao menos o seu nome para eu me lembrar quando alguém perguntar.
- Depressão. Meu nome é Depressão e eu sou produto do seu pensamento.
Respiro.
- E se eu simplesmente quiser ir embora pela porta da frente? - pergunto-lhe quando a ideia me ocorre.
- A decisão é sua - a Depressão reluta em responder, e parece decepcionada.
- Pois é o que eu vou fazer - e desço do parapeito.
Moral da história: a depressão não tem poder sobre você; a não ser que você deixe.
sábado, 28 de janeiro de 2017
Vapor de Dor
Você também poderá ouvir este episódio no podcast Caminhos da Reflexão.
Maria das Dores tinha vinte e dois anos e trabalhava como repositora em um supermercado. Ela gostava de seu trabalho e se esforçava para ser uma boa funcionária.
Certo dia, ela desceu a escada com caixas de produtos de higiene para abastecer as prateleiras e torceu o pé bem de levinho. Achou que dava para suportar a dor e não falou para ninguém.
No dia seguinte, porém, ao se levantar da cama sentiu que o pé estava incomodando muito e se apressou a aplicar um gel anti-inflamatório e enfaixar. Enquanto trabalhava naquele dia, todos os colegas e até clientes do estabelecimento perguntavam-lhe o que tinha acontecido e ela respondia que tinha torcido o pé e que estava tudo bem. Entretanto, ela não podia imaginar que o ocorrido chegasse aos ouvidos da patroa, que a chamou para o escritório tão logo soube de seu incidente.
Maria obedeceu imediatamente e foi ao encontro da patroa. Esta, furiosa com o comportamento da funcionária em deixar todos com dó de ela estar trabalhando com um pé machucado, exigiu que Maria retirasse a faixa.
- Não tem nada machucado aí - disse a patroa ao verificar o pé após ter sido desenfaixado. - Você está inventando isso para que todos pensem que somos patrões severos e intolerantes. Volte já para o seu trabalho e não repita isso nunca mais.
Envergonhada, Maria voltou a trabalhar e quando saiu do expediente caiu em prantos. A humilhação deixara-a arrasada.
À noite, orou para que Deus mostrasse, de alguma forma, como as pessoas sentem dores e logo em seguida caiu em um sono profundo.
Uma luz muito brilhante iluminou todo o seu quarto e ela teve medo. Quando conseguiu habituar os olhos, viu um anjo com asas e tudo!
- Boa noite, Maria. Vim aqui para atender um pedido que você fez a Nosso Senhor. Venha comigo.
Ela levantou e segurou na mão estendida do anjo. Subitamente, viu-se no local onde trabalhava e todas as pessoas em suas respectivas funções. Contudo, de cada uma delas surgia um vapor de algum lugar específico do corpo e ora os vapores eram brancos, ora amarelados, esverdeados e até cinzas e bem espessos.
- Você pediu para que as dores fossem reveladas, e eis a forma que Deus encontrou. Vê aquele seu colega do hortifruti? Faz anos que ele sofre com dor na coluna e como é uma dor bastante forte, o vapor que exala do ápice da dor é esverdeado.
- E a moça do caixa, o que ela tem? Todo o corpo dela está fumegando com uma cor cinza muito densa.
- Ela ainda não sabe, mas as dores que ela suporta são sintomas de leucemia.
Maria admirou a coragem da colega de trabalho e se perguntou por que ela ainda não havia ido ao médico. Enquanto observava os demais trabalhadores, o anjo pediu para que ela olhasse para o próprio pé. Dele subia um vaporzinho branco semelhante a água fervendo. Percebeu então o que Deus quis lhe ensinar. E o anjo complementou:
- Todos os seres humanos sentem algum tipo de dor, uns mais, outros menos, e recebem a força necessária para suporta-lá.
O anjo segurou no ombro de Maria e, em um piscar de olhos, ela acordava em sua cama novamente.
Seu pé continuava doendo, e lembrando-se do sonho, adquiriu forças para aguentar caminhar o dia inteiro pois sabia que havia colegas com problemas piores. E, para ser bem sincera consigo, para evitar nova humilhação.
Depois de algumas horas, a patroa mandou recado de que queria vê-la novamente. Com medo de outra represália, a moça foi rapidamente ao escritório.
Sua patroa estava com o cotovelo envolvido em uma bandana, mas Maria ficou bem quietinha. Então ela avisou que tinha marcado uma consulta médica para Maria examinar o pé e informou que pagaria também pelos medicamentos que o médico prescrevesse. Ainda se prontificou a levar Maria ao consultório.
Maria só conseguiu murmurar um obrigada e quando estavam dentro do carro sua patroa lhe explicou:
- Dei uma cotovelada na parede ontem à noite em minha casa quando levantei na madrugada e hoje cedo quando reclamei sobre meu braço dolorido com meu marido, ele riu e disse que "não tem nada aí. Você tá de frescura".
Maria não falou nada, mas sorriu interiormente com a verdadeira revelação das dores.
Maria das Dores tinha vinte e dois anos e trabalhava como repositora em um supermercado. Ela gostava de seu trabalho e se esforçava para ser uma boa funcionária.
Certo dia, ela desceu a escada com caixas de produtos de higiene para abastecer as prateleiras e torceu o pé bem de levinho. Achou que dava para suportar a dor e não falou para ninguém.
No dia seguinte, porém, ao se levantar da cama sentiu que o pé estava incomodando muito e se apressou a aplicar um gel anti-inflamatório e enfaixar. Enquanto trabalhava naquele dia, todos os colegas e até clientes do estabelecimento perguntavam-lhe o que tinha acontecido e ela respondia que tinha torcido o pé e que estava tudo bem. Entretanto, ela não podia imaginar que o ocorrido chegasse aos ouvidos da patroa, que a chamou para o escritório tão logo soube de seu incidente.
Maria obedeceu imediatamente e foi ao encontro da patroa. Esta, furiosa com o comportamento da funcionária em deixar todos com dó de ela estar trabalhando com um pé machucado, exigiu que Maria retirasse a faixa.
- Não tem nada machucado aí - disse a patroa ao verificar o pé após ter sido desenfaixado. - Você está inventando isso para que todos pensem que somos patrões severos e intolerantes. Volte já para o seu trabalho e não repita isso nunca mais.
Envergonhada, Maria voltou a trabalhar e quando saiu do expediente caiu em prantos. A humilhação deixara-a arrasada.
À noite, orou para que Deus mostrasse, de alguma forma, como as pessoas sentem dores e logo em seguida caiu em um sono profundo.
Uma luz muito brilhante iluminou todo o seu quarto e ela teve medo. Quando conseguiu habituar os olhos, viu um anjo com asas e tudo!
- Boa noite, Maria. Vim aqui para atender um pedido que você fez a Nosso Senhor. Venha comigo.
Ela levantou e segurou na mão estendida do anjo. Subitamente, viu-se no local onde trabalhava e todas as pessoas em suas respectivas funções. Contudo, de cada uma delas surgia um vapor de algum lugar específico do corpo e ora os vapores eram brancos, ora amarelados, esverdeados e até cinzas e bem espessos.
- Você pediu para que as dores fossem reveladas, e eis a forma que Deus encontrou. Vê aquele seu colega do hortifruti? Faz anos que ele sofre com dor na coluna e como é uma dor bastante forte, o vapor que exala do ápice da dor é esverdeado.
- E a moça do caixa, o que ela tem? Todo o corpo dela está fumegando com uma cor cinza muito densa.
- Ela ainda não sabe, mas as dores que ela suporta são sintomas de leucemia.
Maria admirou a coragem da colega de trabalho e se perguntou por que ela ainda não havia ido ao médico. Enquanto observava os demais trabalhadores, o anjo pediu para que ela olhasse para o próprio pé. Dele subia um vaporzinho branco semelhante a água fervendo. Percebeu então o que Deus quis lhe ensinar. E o anjo complementou:
- Todos os seres humanos sentem algum tipo de dor, uns mais, outros menos, e recebem a força necessária para suporta-lá.
O anjo segurou no ombro de Maria e, em um piscar de olhos, ela acordava em sua cama novamente.
Seu pé continuava doendo, e lembrando-se do sonho, adquiriu forças para aguentar caminhar o dia inteiro pois sabia que havia colegas com problemas piores. E, para ser bem sincera consigo, para evitar nova humilhação.
Depois de algumas horas, a patroa mandou recado de que queria vê-la novamente. Com medo de outra represália, a moça foi rapidamente ao escritório.
Sua patroa estava com o cotovelo envolvido em uma bandana, mas Maria ficou bem quietinha. Então ela avisou que tinha marcado uma consulta médica para Maria examinar o pé e informou que pagaria também pelos medicamentos que o médico prescrevesse. Ainda se prontificou a levar Maria ao consultório.
Maria só conseguiu murmurar um obrigada e quando estavam dentro do carro sua patroa lhe explicou:
- Dei uma cotovelada na parede ontem à noite em minha casa quando levantei na madrugada e hoje cedo quando reclamei sobre meu braço dolorido com meu marido, ele riu e disse que "não tem nada aí. Você tá de frescura".
Maria não falou nada, mas sorriu interiormente com a verdadeira revelação das dores.
Assinar:
Postagens (Atom)
INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO
O povo brasileiro é criativo e empreendedor, principalmente motivado por ambientes de crise, como a pandemia do Covid-19, que refreou a econ...