sábado, 28 de janeiro de 2017

Vapor de Dor

Você também poderá ouvir este episódio no podcast Caminhos da Reflexão.




Maria das Dores tinha vinte e dois anos e trabalhava como repositora em um supermercado. Ela gostava de seu trabalho e se esforçava para ser uma boa funcionária.

Certo dia, ela desceu a escada com caixas de produtos de higiene para abastecer as prateleiras e torceu o pé bem de levinho. Achou que dava para suportar a dor e não falou para ninguém.

No dia seguinte, porém, ao se levantar da cama sentiu que o pé estava incomodando muito e se apressou a aplicar um gel anti-inflamatório e enfaixar. Enquanto trabalhava naquele dia, todos os colegas e até clientes do estabelecimento perguntavam-lhe o que tinha acontecido e ela respondia que tinha torcido o pé e que estava tudo bem. Entretanto, ela não podia imaginar que o ocorrido chegasse aos ouvidos da patroa, que a chamou para o escritório tão logo soube de seu incidente.

Maria obedeceu imediatamente e foi ao encontro da patroa. Esta, furiosa com o comportamento da funcionária em deixar todos com dó de ela estar trabalhando com um pé machucado, exigiu que Maria retirasse a faixa.

- Não tem nada machucado aí - disse a patroa ao verificar o pé após ter sido desenfaixado. - Você está inventando isso para que todos pensem que somos patrões severos e intolerantes. Volte já para o seu trabalho e não repita isso nunca mais.

Envergonhada, Maria voltou a trabalhar e quando saiu do expediente caiu em prantos. A humilhação deixara-a arrasada.

À noite, orou para que Deus mostrasse, de alguma forma, como as pessoas sentem dores e logo em seguida caiu em um sono profundo.

Uma luz muito brilhante iluminou todo o seu quarto e ela teve medo. Quando conseguiu habituar os olhos, viu um anjo com asas e tudo!

- Boa noite, Maria. Vim aqui para atender um pedido que você fez a Nosso Senhor. Venha comigo.

Ela levantou e segurou na mão estendida do anjo. Subitamente, viu-se no local onde trabalhava e todas as pessoas em suas respectivas funções. Contudo, de cada uma delas surgia um vapor de algum lugar específico do corpo e ora os vapores eram brancos, ora amarelados, esverdeados e até cinzas e bem espessos.

- Você pediu para que as dores fossem reveladas, e eis a forma que Deus encontrou. Vê aquele seu colega do hortifruti? Faz anos que ele sofre com dor na coluna e como é uma dor bastante forte, o vapor que exala do ápice da dor é esverdeado.

- E a moça do caixa, o que ela tem? Todo o corpo dela está fumegando com uma cor cinza muito densa.

- Ela ainda não sabe, mas as dores que ela suporta são sintomas de leucemia.

Maria admirou a coragem da colega de trabalho e se perguntou por que ela ainda não havia ido ao médico. Enquanto observava os demais trabalhadores, o anjo pediu para que ela olhasse para o próprio pé. Dele subia um vaporzinho branco semelhante a água fervendo. Percebeu então o que Deus quis lhe ensinar. E o anjo complementou:

- Todos os seres humanos sentem algum tipo de dor, uns mais, outros menos, e recebem a força necessária para suporta-lá.

O anjo segurou no ombro de Maria e, em um piscar de olhos,  ela acordava em sua cama novamente.

Seu pé continuava doendo, e lembrando-se do sonho, adquiriu forças para aguentar caminhar o dia inteiro pois sabia que havia colegas com problemas piores. E, para ser bem sincera consigo, para evitar nova humilhação.

Depois de algumas horas, a patroa mandou recado de que queria vê-la novamente. Com medo de outra represália, a moça foi rapidamente ao escritório.

Sua patroa estava com o cotovelo envolvido em uma bandana, mas Maria ficou bem quietinha. Então ela avisou que tinha marcado uma consulta médica para Maria examinar o pé e informou que pagaria também pelos medicamentos que o médico prescrevesse. Ainda se prontificou a levar Maria ao consultório.

Maria só conseguiu murmurar um obrigada e quando estavam dentro do carro sua patroa lhe explicou:

- Dei uma cotovelada na parede ontem à noite em minha casa quando levantei na madrugada e  hoje cedo quando reclamei sobre meu braço dolorido com meu marido, ele riu e disse que "não tem nada aí. Você tá de frescura".

Maria não falou nada, mas sorriu interiormente com a verdadeira revelação das dores.

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